Quase sete meses em terras
germânicas, cada dia mais apaixonada pelo outono alemão, suportando bem o frio e
ficando desesperada com o céu completamente escuro às 18h. E sei que o frio vai
ficar pior e ainda vai escurecer mais cedo. Mas por enquanto estou aproveitando
os dias lindos com tantas cores que nunca tinha visto antes nessa estação!
Foto do Instituto, enquanto esperava o ônibus. |
Não tive tempo de escrever
no blog nos últimos dias, finalmente minha rotina está tomando forma e ficando
apertada com os deadlines de congressos chegando, primeiro relatório da bolsa e
nova reunião para discutir meu projeto. Além, é claro, das reuniões quinzenais
do grupo, aulas de alemão e uma nova disciplina da orientadora: “Biomecânica do
Movimento” – em alemão.
A combinação doutorado e
morar fora do país traz uma experiência inigualável! Por incrível que pareça,
tenho me tornado cada dia mais organizada (no trabalho, minha casa continua uma
bagunça) e finalmente estou conseguindo lidar com agenda e horários. Bom, a
pontualidade, em parte, também é culpa da Alemanha, me obrigando a adotar
rotina rígida de horário por conta do transporte público: todos os dias pego o
trem às 7:08 para a estação central, são só dois minutos, mas o trem seguinte
(7:15) vive atrasado, e na estação central o trem sai às 7:22 para Aachen (e
esse eu não posso perder). Depois de 1h15 de viagem (chego pontualmente 8:37) pego
um ônibus pro trabalho, que felizmente passa a cada 2-5 minutos. O campus é
espalhado por toda cidade, como meu instituto não fica na parte central, não dá
para ir à pé. Saio do trabalho e pego ônibus em frente ao instituto 17:04 para
pegar o trem das 17:19. Chego (nem sempre) pontualmente às 18:34 na estação
central, se eu correr, consigo pegar o trem das 18:37 na outra plataforma, se
não, pego o metrô às 18:42. Poderia caminhar, são só 12-15 minutos, mas não.
Todos os dias tenho 3 horas
de ócio enquanto estou no trem ou na estação esperando pelo trem, dependendo da
minha noite de sono, durmo antes do trem começar a se movimentar e só acordo na
minha estação. Não me perguntem como nunca perdi a estação. Mas nas outras, ou eu leio algum livro
completamente alheio ao universo acadêmico ou navego no facebook.
Acreditem, tenho tempo pra
caramba pra ler o tanto de baboseira que todo mundo escreve, pra desfazer
amizades e bloquear perfil de “malucos” que infelizmente não posso excluir. Um
desses acusando os bolsistas Ciência sem Fronteiras (CsF) de receber “bolsa
vagabundo”. E de votar na Dilma por medo de perder a mamata. E de ser fácil
torcer por ela enquanto escolhi outro país para morar.
Bom, pra começar: eu nem
votei esse ano. Mas tenho me interessado mais por política sim, aqui é um
assunto comum para se ter na mesa do almoço, civilizadamente. E é muito mais
fácil me manter neutra sem a mídia brasileira vomitando suas verdades parciais.
Sinceramente, eu não me importo com o posicionamento político de ninguém, mas com
as chatices e falta de respeito sim. Também não me importo com as opiniões
sobre bolsa CsF, nem com a bolsa família, que tão constantemente tenho postado
no meu perfil para INFORMAR. Percebi que existem pessoas que não se importam
com as verdades e dados estatísticos, mas com suas próprias verdades e boatos
do facebook.
Enfim, ao que me perguntaram
sobre viver na Alemanha, porque não vão conseguir viver em um país que sustenta
tanto vagabundo (Brasil), saibam que aqui é um país que sustenta ainda mais
vagabundo: mães recebem dinheiro antes e depois do parto, durante o primeiro
ano da criança parte do seu salário (67% se não me engano) ou se não trabalhar
recebe pelo menos 300 euros, 75 euros por filho com até 3 anos fora todos
os outros auxílios assistenciais – os que eu citei independe de você ser pobre
ou não. Meu namorado recebe uma bolsa esmola até hoje!
Meu sonho
sempre foi morar fora do país, preferencialmente na Europa. Ou melhor, na
França. Temporariamente (amo o Brasil!). Investi no meu francês por alguns
anos, mas o destino colocou um alemão no meu caminho. Sempre sonhei ter essa
experiência, morria de vontade no colegial quando sabia de alguém que ia para
os EUA fazer um curso de inglês. Ou intercâmbio de High School. Na faculdade eu ainda procurei por oportunidades, mas
aí escolhi ter uma bolsa científica, assumi outros compromissos e não tive como
ir. Mas colegas da minha sala foram, e eu babava nas fotos! Terminei minha
graduação e entrei direto pro mestrado e perdi a idade de ser Au Pair. E acabei me consolando em fazer
o doutorado sanduíche (já contei essa história aqui) na Califórnia, até que
resolvi pedir a bolsa do doutorado pleno. Depois de conhecer minha orientadora
e pensar melhor, eu estava disposta a vir fazer meu doutorado mesmo sem bolsa,
arranjar um student job e estudar,
por que não? Mas tive a oportunidade (e mérito) de ganhar uma bolsa do governo
brasileiro. Alguém acredita que eu realmente estou preocupada com o que vocês pensam da minha vida de bolsista?
Antes de reclamarem tanto,
lembrem das palavras do Papa Francisco dessa semana: “Vamos repetir juntos do fundo do coração: nenhuma família sem-teto!
Nenhum camponês sem-terra! Nenhum trabalhador sem direitos! Nenhuma pessoa sem
a dignidade que dá o trabalho”. Mais caridade quando falarem de famílias que
precisam sim da “esmola” para ajudar (ou possibilitar) o sustento da casa. Que sim, ajudou a
tirar o país do mapa da fome. Não interessa quem ou qual partido político
inventou. Quer discutir sobre o assunto, criticar (para melhorar, não a crítica
pela crítica), fiquem à vontade. Tenham menos ódio nesse coração de vocês. Mas por favor: voltem a postar coisas legais que preciso preencher meu ócio no trem, ultimamente tenho preferido dormir, porque ó, tá chato!
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